Os pontos abaixo são um resumo do debate que realizamos internamente no Instituto Marielle Franco em abril de 2021, quando começamos a escrever as políticas de cuidado da organização.
Começamos a conversa refletindo que para além dos direitos trabalhistas conquistados históricamente, precisávamos dialogar sobre o que mais entendíamos por cuidados coletivos e essas foram algumas das reflexões que surgiram:
1) Precisamos cuidar de nós mesmas antes de querermos cuidar do mundo. Nossa vida é o recurso mais importante que cada uma de nós têm para mudar a sociedade e esse recurso precisa ser preservado. Precisamos nos cuidar de dentro pra fora.
2) O contexto afeta as pessoas de formas diferentes. É preciso pensar o bem estar com equidade para não criarmos políticas de cuidado uniformizantes.
3) Tempo e atenção são recursos essenciais na dinâmica de trabalho que não estão disponíveis de forma igual para quem é responsável por cuidar de crianças e quem não é.
4) Redes de apoio são fundamentais para que possamos nos cuidar, em especial para quem cuida de crianças.
5) A desigualdade de recursos entre as organizações gera uma desigualdade da possibilidade de cuidado
6) O burnout do ativismo existe e precisamos entender que nossa luta se dá no longo prazo, e que não podemos deixar que queimemos nossa energia tão rápido.
7) Sentimos raiva de vermos tudo que está acontecendo e ver que são os nossos corpos que estão na frente. Lembramos como Audre Lorde fala da raiva como uma válvula de escape, que falar dói mas que é preciso.
8) A literatura sobre cuidado é muito embranquecida e é fundamental estudar sobre cuidado a partir de uma perspectiva negra e periférica.
9) Mesmo nos momentos de trabalho é importante conseguirmos ter leveza, rirmos e nos divertirmos.
10) Cuidado é um processo diário, uma busca ativa que temos que fazer no meio de um contexto de tanta porrada
11) A cultura supremacista branca é danosa para a lógica do cuidado
12) “Aquilo ao que prestamos atenção, cresce” como a Adrienne Maree Brown falou, então precisamos prestar atenção nas políticas de cuidado, dedicando tempo, energia, recursos e priorização.
13) Não existe uma política de cuidado perfeita porquê perfeição é um parâmetro da cultura supremacista branca.
14) Precisamos construir uma cultura organizacional que não adoeça as pessoas, para que as próximas gerações se conectem com essa organização de forma saudável